quarta-feira, 12 de maio de 2010

MUNDIAL DE XADREZ e observações marginais

Eu achei o match em si muito bom.

Os jogos foram bastante lutados e sem empates de salão. Os jogadores foram bastante corteses. Não houve mumunha extra tabuleiro, apesar da desconfiança generalizada contra os búlgaros.

Acho que foi um match muito limpo e que ambos jogadores jogaram dignamente.

Gosto do Topalov porque dificilmente faz aqueles empates de comadres que irritam qualquer um.

Sobre a última partida, eu penso que:

a) o Topalov jogava com uma imensão pressão interna (imposta por si próprio) pois pode ser sempre a última oportunidade da vida em disputar o título máximo do xadrez;

b) havia uma grande pressão externa (do país e coisa e tal);

c) o desempate, em tese, favorecia amplamente o campeão pois é notório o expertise deste em partidas de xadrez rápido.

Muitos dizem que foi uma disputa sem qualquer atrativo.

Fiquei pensando seriamente num paralelo com o "fracasso" que foi o campeonato estadual do Rio de Janeiro de futebol de 2010. É o mesmíssimo modelo que fez imenso sucesso em várias edições seguidas, mas que, sem que o possamos precisar exatamente, neste ano foi retumbante fracasso.

Talvez, de tempos em tempos, se tenha que promover uma mexida ainda que isso venha a ferir de morte o postulado "em time que está ganhando não se mexe". Só para que tudo que é sólido se desmanche no ar, como dizia o barbudo lá em meados do séc. XIX.

Creio que esta sensação generalizada de que o match foi "sem sal" possa ter várias explicações:

a) a internet transmitindo on line com vários perus de fora utilizando o computador para ver as capivaradas acaba diminuindo o elan, a magia, o inesperado da coisa. Fica tudo muito padronizado;

b) infelizmente, essa panelinha dos 2700 acaba tirando o charme da disputa em match pois fica a sensação que os caras estão jogando mais uma partida de um imenso match que transcorre ano após ano;

c) o xadrez, de um modo geral, não parou para acompanhar o match, inclusive tendo competições oficiais da própria FIDE rolando em paralelo;

d) jogando entre si tantas vezes em seguidos torneios, a disputa tende a perder o frescor da novidade ficando altamente previsível e, a impressão geral que se tenha é que estamos vivenciando um outro torneio qualquer que será seguido de outro;

d) por fim, o inusitado e o glamour de um match acabou sendo sufocado porque os jogadores se conhecem de trás para frente e de frente para trás.

Acho que a saída seria o retorno dos interzonais e dos confrontos em matches até chegar a O DESAFIANTE.

Isso abriria a possibilidade de jogadores que estão fora do esquema aprontarem uma quizumba e fazerem o torneio de suas vidas desbancando os medalhões, que hoje acabaram virando grandes "cartórios".

Agora, en passant, acho que o interzonal deveria ter um limite máximo de participantes (20, por exemplo); o torneio deveria ser round robin; prêmio até o décimo, por exemplo; e com pagamento de inscrição pelos jogadores e sem direito a nada (hospedagem, alimentação, traslado, etc). Cada qual paga do bolso e disputa o prêmio máximo (passar para a outra fase) ou os prêmios intermediários (em grana).

Isso, por um lado, acabaria com os oportunistas que vão para curtir a piscina e deitar na sopa, e, por outro, mobilizaria realmente aqueles que acham que podem fazer diferença.

Blanco

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