sábado, 2 de outubro de 2010

Algumas especulações: olimpíadas e o sistema suíço

Li uma OPINIÃO sumamente rica sobre o último assunto aqui discutido sobre OLIMPÍADAS e o sistema suíço.

Leo Mano fez importantes observações acentuando o ponto nevrálgico.

"Os atalhos do sistema suiço tem um preço: Muita fibra nos momentos críticos.

O momento crítico do Brasil (quando a arrancada deveria começar) foi justamente contra a Itália, quando a equipe foi derrotada pelo celular do Pablyto (que NÃO tocou). Sei que este incidente não foi o fator decisivo para o resultado mas eu não podia perder esta piada...

O emparceiramento, de uma maneira geral, foi gentil com o Brasil. Apenas duas pedreiras (China e Hungria) e mais 8 matchs com equipes equivalentes ou inferiores. Nestes 8 matches a única derrota foi no momento crítico... Coincidência?

Enfim, estamos indo para a última rodada numa  situação já vivida por todos nós nos nossos suiços tupiniquins quando a última rodada resume todo o torneio: Uma vitória trará a glória, um empate nos manterá de cabeça erguida e uma derrota será mais uma frustração olímpica.

Estou adorando ver o Milos em sua melhor forma novamente. Juntamente com o Leitão, muito seguro, nos fizeram esquecer do Vescovi. Diamant está incrivelmente amadurecido e consistente. Fier, nas palavras do próprio Pablyto, se manteve fiel ao seu estilo. Li críticas com respeito a isso mas, se tivéssemos a chance de pegar um peixe grande na reta final, talvez ele fizesse toda a diferença a nosso favor. Já o Krikor jogou abaixo de suas possibilidades e provavelmente já encerrou seu torneio. Acumulou 1v, 2d e 5 empates num tabuleiro que muitos especialistas afirmam ser decisivo nos matchs olímpicos. Longe de querer responsabiliza-lo por alguma derrota. Contra a Itália a pane foi geral. Na verdade, como equipe, não me lembro de ter visto melhor em termos de resultados.

No feminino, a Rússia1 é campeã por antecipação (venceu todos os 10 matches) e irá jogar a última rodada contra a Rússia2 que luta por medalha. Vai ter marmelada?

Não vi as partidas do Brasil no feminino mas sei que jogaram dentro de suas possibilidades e, neste sentido, fizeram um bom torneio. O time está mais forte que no tempo da minha querida irmã Regina.

Leo Mano."

Vou refletir sobre tudo que aprendi acima.

Blanco

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Algumas especulações

Há algum venho reflexionando sobre aonde o Brasil poderia chegar nas Olimpíadas.

Penso que se utilizássemos o sistema suíço de emparceiramento, poderíamos atingir uma classificação muito acima da força de rating do time.

Lembro que o Brasil é o n. 24 dentre as 150 equipes competidoras.

Creio que alguns países se utilizam desse artifício para se cacifarem na classificação final. Isso pode não significar nada de concreto para além do prestígio inter pares.

De qualquer forma, acho que isso acaba, mal ou bem, se refletindo no xadrez interno de cada país.

Penso que o caso da França e Argentina na última olimpíada tiveram performance especiais.

Pode ser mera coincidência, mas procurem verificar no sitio

http://www.chess-results.com/tnr36795.aspx?art=2&rd=10&lan=10&flag=30&m=-1&wi=100 0

a escalada da FRANÇA até jogar, hoje, no primeiro tabuleiro.

Vejam, a França é o n. 10 em rating. Logo, seu tabuleiro correto é o n. 5. Compare-se, rodada a rodada, em quais tabuleiros os caras jogaram. Recorde-se que as olimpíadas tem 11 rodadas.

Se poderá verificar que ela jamais esteve além de suas forças até a rodada 9, se formos rigorosos. Se quisermos dar um desconto, então, somente na rodada 8 os caras atingiram a mesa a qual lhes corresponderia a força de rating.

Então, levando em consideração o viés rigoroso, a França jogou espetacularmente com o sistema suíço. Evidente que é uma estratégia arriscada e tudo pode dar errado.

Compare-se o caso de Portugal para ver um time azarado. Creio que tentaram o mesmo artifício, mas a uruca os perseguiu. Quando empatavam ou perdiam, caiam de mesa e acabavam pegando um adversário mais forte ou equivalente que ou tinha empatado ou perdido na rodada anterior.

Mas, há que se contar com um pouco de sorte. E esta bafejou o time francês. Na rodada 9 os caras enfrentaram o adversário "mais fraco" (Georgia) daqueles que lideravam, vale dizer, jogaram com um time, no máximo equivalente, e no mínimo estando na situação de favoritos.

Ganhou o match contra a Georgia e hoje teve o prazer de jogar no primeiro tabuleiro a "tudo por tudo" como dizem os portugueses (nós preferimos: ou tudo ou nada).

Perderam o match contra a Ucrânia, cujo time jamais saiu das primeiras meses em momento algum. E se desse uma zebra ?

São apenas considerações, mas, a derrota de ontem para a Itália, prejudicou demais a excelente campanha do Brasil. Um empate contra os italianos e uma vitória hoje nos teria relançado nas primeiras mesas, aonde poderíamos ter o prazer de jogar TUDO POR TUDO ou, se preferirem, Ou tudo ou nada, na ÚLTIMA RODADA!! Terminaríamos numa posição escandalosamente excelente para o nível do Brasil.

São meras divagações.

Acabo de ver que o Carlsen, n. 1 do mundo em rating, perdeu para um russo (digo, foi triturado) do time 4 da Russia. Com isso quero dizer que a mágica aconteceu nesse jogo. E se acontecesse na mesa 1 ?

Ontem quase aconteceu no feminino com a equipe Russa que estava com 100%.

Blanco

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eleição

Reproduzo a lição do Professor Marco Aurélio Nogueira publicado em http://congressoemfoco.uol.com.br/noticia.asp?cod_canal=4&cod_publicacao=34547 e no ESTADÃO do último domingo.

Blanco


27/09/2010

A política em estado de sofrimento

“A perda de confiança na política, o desinteresse da opinião pública pelos políticos, a sensação generalizada de que trabalham mal, que mais criam do que resolvem problemas – tudo isso parece entranhado na cultura da época”

Marco Aurélio Nogueira *

A poucos dias da ida de milhões de brasileiros às cabines de votação, não há festa cívica no país. Nunca antes tivemos um processo eleitoral tão insosso e despolitizado, tão vazio de elementos para que se entendam o mundo em que vivemos e o ciclo em que ingressaremos, sejam quem forem os próximos governantes.

Não vale a pena investir contra os políticos, ainda que a responsabilidade deles deva ser apontada. Talvez eles estejam sem forças, não tenham sabido reagir e se deixaram engolir pela pasmaceira geral. Pode ser que somente sejam o produto da prevalência de um modo de fazer política que se deleita em disputar a atenção dos mais pobres em troca de promessas ilimitadas de abrigo e proteção – um populismo atualizado e matreiro, mas nem por isso menos deletério. Embalado pela adesão generalizada das massas e das elites do país, esse modo de fazer política encurralou a oposição democrática, fazendo dela uma caricatura, um corpo sem pernas e sem cabeça, erraticamente em busca do tempo perdido.

O mal-estar que acompanhou a campanha não é um produto mecânico da má qualidade dos políticos nem uma falha das instituições. Tem dimensão universal, pode ser sentido em outras partes do mundo. A perda de confiança na política, o desinteresse da opinião pública pelos políticos, a sensação generalizada de que trabalham mal, que mais criam do que resolvem problemas – tudo isso parece entranhado na cultura da época. Estamos perante um problema que está além de responsabilidades pessoais ou institucionais.

Há vida aqui fora. Os problemas e as dificuldades se repõem sem cessar, agravando desníveis e desigualdades. A sociedade manifesta sua insatisfação e suas contradições de diferentes maneiras, mas sua voz não assume forma política, não consegue se unir nem definir com clareza o alvo a atingir. Faltam-lhe operadores e recursos organizacionais. A política entrou em estado de sofrimento, a representação parece levitar, como se não tivesse bases de sustentação.

É o preço que se está pagando pelo ingresso da humanidade numa nova fase do capitalismo, movida a velocidade, tecnologia, consumo, fluxos ininterruptos de informação, conectividade permanente.

No caso brasileiro, para complicar, o Estado e a política estão confundidos pelo cruzamento de modernidade tardia e condição periférica: ficamos excessivamente modernos sem deixarmos de ser pobres, desiguais e atrasados. A mistura desses dois universos é terrível. Embaça tudo. As instituições políticas se mantêm, mas perdem eficácia e qualidade. Soltam-se da sociedade e passam a afastar os cidadãos das decisões referentes à coletividade. Os eleitores flutuam, sem saber ao certo o destino real de seu voto e sem compreender a lógica do sistema eleitoral.

Os políticos, por sua vez, não se mostram à altura dos tempos. Estão sem estatura técnica e intelectual, lealdade ao povo e uma ideia de país. Vítimas não inocentes desse sistema, os partidos sobrevivem, mas não participam das eleições como forças ideológicas ou programáticas coesas, não se comportam como expressão de movimentos orgânicos de opinião. Reduziram-se à luta pelo poder.

Os bons parlamentares – sim, eles existem – não parecem possuir peso e articulação suficientes para dar às Casas Legislativas a expressão que precisam ter, nem para desfazer a imagem negativa que as cerca. Com isso os cidadãos ficam despojados de uma instância confiável de representação política e de processamento democrático de demandas e reivindicações.

A propaganda eleitoral acentuou a gravidade da situação. Mais uma vez, foi marcada pelo mais puro bestialógico. Teve alguma serventia na parte dedicada aos cargos executivos, mas foi patética no caso dos candidatos às Assembleias Legislativas e ao Congresso Nacional. Apresentou-os a contragosto, como personagens secundários, aprisionados em camisas de força que os transformaram em marionetes e ventríloquos. Não deram espaço para debates que valorizassem o trabalho legislativo e explicassem sua importância para a população, ou que ao menos indicassem ao eleitor a relevância que esse ou aquele candidato tem no partido a que está vinculado.

Vista como medida de alto impacto democrático, por facilitar a comunicação dos políticos com os cidadãos e abrir espaços para todos os candidatos, a propaganda eleitoral gratuita sofre as consequências de um efeito não desejado: quanto mais é controlada e formatada pelo marketing, mais escapa do discernimento dos políticos, mais os degrada e mais rebaixa o discurso político. Apequena a política, entregando-a a jogos de cena histriônicos, acusações bombásticas, revelações sensacionalistas, traições inusitadas.

A política, no fundo, ajustou-se às exigências da época: também ela se tornou "visual" e "imagética", repleta de luzes e mercadorias. Ao fazer isso, passou a correr o risco de deixar de ser exatamente aquilo que mais se espera dela: um espaço de reflexão crítica sobre o Estado, de agregação cívica de interesses e expectativas, de firme confronto de ideias. Se a política não puder ser isso, se não privilegiar o debate público e não for uma espécie de viga que não se dobra nem à vontade dos poderosos nem aos hábitos passivos dos cidadãos, então se converte em mera luta pelo voto e em "gestão". Ou seja, vira quase nada.

Para descobrir por que as atuais eleições foram tão sem graça podemos ponderar que, diante de propostas que não lhe falaram à razão, que oscilaram entre a autoglorificação, o radicalismo verbal abstrato e o tecnicismo gerencial, que exibiram candidatos desencarnados de partidos ou correntes de ideias, o eleitor optou pela acomodação. Em vez de terem criado condições para uma reflexão coletiva sobre o país e o mundo, as eleições empurraram o cidadão para um conservadorismo defensivo e meio alienado. Talvez isso nos ajude a entender o que sairá das urnas."

* Professor titular de Teoria Política da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Texto publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo. Reprodução autorizada pelo autor.

Parabéns GM Darcy Lima, ...

Informo que o GM Darcy Lima foi consagrado como VICE-PRESIDENTE FIDE PARA AS AMÉRICAS no Congresso da Fide que se está realizando em paralelo às oliimpíadas de xadrez.

Tirante a minha aversão por essa figura famigerada da REELEIÇÃO, será importante ter um hablante de portugués na direção da FIDE-América, pois, além de periféricos somos uma ilha linguística nesse continente de Quijotes!

Acredito que isso representará um peso maior para o Brasil não só no cenário latino-americano, pois teremos eco para além mar.

Sucesso na nova empreitada GM Darcy.

Blanco

P.S.: Apesar de apoiar Karpov, tal como a federação local, estou acompanhando as olimpíadas de xadrez com avidez, noticiando para os alexanos as informações que apuro na internet. Acho que a federação ainda não se apercebeu, pois nenhuma nota foi colocada. Mas ainda há tempo. Vamos lá gente.